Há uma linha tênue entre o amor e a dor, fomos ensinados assim.
Desde pequenas(os) ouvimos histórias de princesas que são salvas por um príncipe encantado, outras presas em um calabouço passam a vida toda ali, até que o príncipe, lindo, rico, montado em seu cavalo branco, com seus cabelos ao vento chega para salvá-la. Tem até as que morrem e são ressuscitadas por ele. Ele maravilhoso, em muitas destas fábulas é forte fisicamente mas fraco emocionalmente, comandado pela mãe e vive abaixo das asas de papi e mami. Mas não deixe ser ele o imponente príncipe.
Quero primeiramente esclarecer que não sou de nenhum desses movimentos feministas, não sou a favor de algumas manifestações que vejo, e isto é um posicionamento pessoal, acredito que mulheres são 90% das pessoas que sofrem com relacionamentos abusivos e tóxicos, em especial na fase de violência doméstica, mas jamais teria a pretensão de excluir ou desconsiderar a dor dos 10% de homens que sofrem o mesmo e muitos que por sua criação machista ainda sequer aceitaram que vivem isto.

- 1 a cada 3 mulheres sofre com violência doméstica (física)
- 3 a cada 5 mulheres sofrem ou sofreram com RA (relacionamento abusivo) ou viu isto acontecer com algum dos seus vínculos afetivos ao longo da vida
- Nem 10% dos casos são registrados
- 90% dos casos não são registrados
- Na quarentena foi registrado um aumento superior a 30% nos casos relatados como violência doméstica
Segundo pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas que detalhou impactos perturbadores da violência sobre a saúde física, sexual, reprodutiva e mental das mulheres.
“Mulheres que sofrem abuso físico ou sexual têm duas vezes mais chances de fazer um aborto, e a experiência quase dobra sua probabilidade de cair em depressão. Em algumas regiões, elas têm 1,5 vez mais chances de adquirir HIV, e existem evidências de que mulheres agredidas sexualmente têm 2,3 vezes mais chances de ter distúrbios com álcool. Mais de 87 mil mulheres foram intencionalmente assassinadas em 2017 e mais da metade foi morta por parceiros íntimos e familiares. Surpreendentemente, a violência de gênero é uma causa tão grave de morte e incapacidade entre as mulheres em idade reprodutiva quanto o câncer, e uma causa maior de problemas de saúde que os acidentes de trânsito e a malária combinados.” (Site da ONU)
Sem dúvidas é devastador, uma herança cultural maldita.
A devastação emocional é tamanha que se torna uma grande cicatriz, com uma fina película, que pode doer ao menor toque. Não é fácil confrontar com as lembranças das ameaças, da pressão sofrida, da tensão diária, mesmo estando há muitos anos livre do relacionamento abusivo. São marcas profundas.
Todo relacionamento abusivo se inicia de forma encantadora, afinal jamais nos entregaríamos apaixonadamente para alguém que já de início chegasse podando nossa liberdade e metendo a mão na cara, jamais, tudo começa da forma que começa qualquer relacionamento. Abaixo descrevo um pouco de cada ciclo:

Este ciclo doentio pode se estender por uma vida inteira, quem nunca ouviu falar de uma mulher que sofria estes abusos desde a adolescência e que já idosa ainda estava ao lado do abusador.
Considero importante citar que o abusador também está doente, em geral homens que foram criados em lares violentos, e a modelagem que tiveram foi do amor que fere, que não permitir que ela coloque tal roupa, ou saia com tal amiga é uma maneira de “proteger o relacionamento”. Li um artigo interessante a respeito do perfil do homem que impede a mulher de sair, de ser, de sentir, é como um colecionador de artes que compra seus quadros no mercado negro, qual a graça de comprar um quadro de picasso e não poder expor para todos?? Então a resposta encontrada foi “tenho o prazer de olhar e dizer que é meu, minha posse”.

Nem sempre as crianças sabem o que é amor e o que é dor. Se fere não é amor, muitas vezes vira, se fere é amor, porque foi assim que aprenderam. Que viram.
Nossa sociedade precisa urgentemente de cura, e não será somente acolhendo as mulheres e rechaçando os homens que conseguiremos isto. Precisamos de um novo modelo mental do que é amor, sair do conto de fadas e olhar para a realidade que temos dentro das casas, quando o dinheiro acaba, quando a bebida chega, quando as dores antigas gritam e no meio disso tudo, quando as crianças chegam para ver tudo que não deveriam ver, e crescem achando que aquilo é horrível mas que também é normal, e se tornam adultos que novamente irão replicar os modelos que tiveram.
Se fere não é amor, é uma série de publicações para conscientização, que irá se transformar em um lindo projeto de transformação de pessoas que sofreram com relacionamentos abusivos e violentos, eu venci um RA, já estive na mira de um punhal de prata apontado para meu pescoço, enquanto aquele que no momento se considerava o dono do meu destino, me ameaçava dizendo que iria me esquartejar, e que minha mãe teria que montar um quebra cabeças para conseguir me colocar em um caixão, também dizia que se não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém. Foi mais de uma hora de tensão em um lugar onde ninguém poderia me socorrer, meu socorro veio de Deus, pois naquele período da minha vida a ignorância e o machismo dos homens da minha família me impedia de ter alguém para me proteger.
Penso que uma das maiores dores que podemos sentir quando somos vítimas de um Relacionamento doentio, é a sensação de não ter a quem recorrer, olhar para os lados em uma rua deserta e pensar, puxa, se ele me pegar aqui vai me matar e ninguém vai ver, o medo de andar na rua pois quando olha para trás lá está ele te seguindo. Lembro que ganhei da minha mãe um lindo relógio, e ele pegou para ele, pois disse que se eu usasse chamaria muito a atenção, que não combinava comigo. Eu era uma menina de 19 anos, estudiosa, inteligente, e sim, eu caí nesta cilada, ou seja, ninguém está imune.
Mas eu venci, confesso que por anos foi difícil andar nas ruas sozinha, tentei suicídio, pensar em morrer era constante, por anos chorei ao lembrar, por anos escondi e não falei deste assunto, sentia vergonha de ter vivido isso, mas decidi que não posso mais me calar, e então fui me especializar em Relacionamento Abusivo, e estou preparada para te atender. Hoje vivo um relacionamento saudável, feliz e que me ajudou a reerguer minha auto estima e auto amor. Fiz terapia, me tornei a terapeuta. Tenho aquele algo a mais, eu sei o que você sente, eu sei….. eu sinto muito.
Semana que vem farei uma publicação especial falando sobre a diferença entre relacionamento disfuncional, tóxico e abusivo.
Se você precisa de atendimento e tem medo de falar me envie uma mensagem com a senha “acho linda a flor dente de leão”, vou entender que você está passando por isso sozinha(o) e que não sabe o que fazer.
O maior patrimônio que você tem é a sua história de vida, um dia ela ajudará a transformar muitas vidas. Vamos ajudar a melhorar o mundo.
Grande abraço, Siga transformando a sua e outras vidas. Mari
